sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O PONTO CANTADO


Mais do que mera "música" para "alegrar" o ambiente, o ponto cantado tem uma função específica dentro da liturgia umbandista, razão pela qual deve ser compreendido por seus praticantes, em especial pelos Ogans.

Infelizmente, é possível perceber através das redes sociais, uma degeneração dos pontos cantados. Percebe-se que muitos são feitos sem qualquer conhecimento da liturgia da religião e o que ela prega e acredita. Pior ainda, são "pontos" que abordam pornografias, palavrões, citam expressões como: diabo, lúcifer, capeta, inferno, dentre outras expressões que não condizem com o vocabulário Umbandista, causando mais dúvidas e confusões para aqueles que não conhecem a religião.

O ponto cantado é uma oração. É através dele que pedimos proteção e que evocamos energias. É através do ponto que o médium se concentra, se isola da vida cotidiana e passa a criar a psicoesfera do congá, o que é fundamental para a manifestação dos espíritos que ali atuam.

Por se tratar de uma oração, o ponto deve ser bem feito. Caso não seja a própria entidade que passe o ponto, o Ogan deve, além da inspiração espiritual, ter conhecimento do que está escrevendo. Portanto, se o ponto é para determinado Orixá, deverá saber o que esse Orixá representa, qual seu campo de atuação, quais suas saudações e oferendas, suas cores, etc. Se não tiver esse conhecimento, correrá o risco de fazer um ponto ilógico, sem conexão com o conhecimento da própria fé que professa, fazendo nada mais que uma música com rimas e melodia.

Portanto, como em qualquer atividade dentro da religião, é imprescindível o estudo e o conhecimento para fazer um ponto cantado.

Como destacado no início, infelizmente, é comum encontrar pontos, especialmente na linha de Exu, que acabam por deturpar ainda mais a imagem dessas entidades e contribuir para o preconceito da sociedade. Qualquer Umbandista sério sabe muito bem que Exu não é diabo, que não é vermelho, que não tem chifre, rabo e que muito menos existe um lugar chamado inferno. Contudo, algumas pessoas acabam por incluir tais expressões em suas cantigas, jogando ao chão a vibração do ambiente e prestando um desserviço à religião.

Da mesma forma os pontos de Pombagira. Ao invés de alguns dos pontos realçarem o trabalho dessas entidades no combate as feitiçarias, procuram reforçar o precoceito popular de que são entidades "prostitutas" que praticam promiscuidades e que fazem todo o tipo de trabalho.

Também, na "moda" dos terreiros, a Linha de Malandros e Seu Zé Pilintra, cujos trabalhos, assim como as demais linhas intermediárias, estão no combate à feitiçaria e a abertura de caminhos, acabam sendo retratadas nos famigerados pontos cantados como uma linha de espíritos "malandros" no mal sentido, burladores, alcoólatras e criminosos.

Ora, se buscamos dentro de um templo religioso boas energias e virações, devemos elevar o pensamento a tais energias e não deturpá-las com baixarias e coisas que nada tem haver com tais espíritos. Infelizmente, muitas casas confundem a curimba com um grupo de samba, onde tudo é permitido e onde o toque é mais importante do que a letra e o significado do ponto.

Na nossa Tenda, tais pontos são banidos. Não se é permitido que se cante qualquer ponto que dissemine preconceitos, que denigra a imagem de espíritos e pessoas, bem como promova a desinformação da doutrina.

O Ponto cantado, como já mencionado, contribuiu para a concentração do médium e cria uma psicoesfera propícia a manifestação das linhas que atuam na Umbanda. Portanto, os Ogan e os filhos de fé, devem saber o que estão cantando, devem cantar sentido no coração cada palavra.      

É através do ponto cantado que se passa um pouco da doutrina umbandista, do que se procura dentro de um terreiro e quais as energias que se quer por perto. Portanto, trata-se de importantíssima ferramente às mãos dos Ogans para contribuir no progresso, não só dos médiuns em desenvolvimentos e das entidades em trabalho, mas também da própria religião.


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O EVANGELHO NA UMBANDA


"-Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A pratica da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto, que tem por base o Evangelho de Jesus e como mestre supremo o Cristo". (Caboclo das 7 Encruzilhadas, 16.11.1908).

Como se observa no relato histórico acima destacado, o Caboclo das 7 Encruzilhadas - o qual, através da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes, trouxe ao plano material a Umbanda - estabeleceu o Evangelho de Jesus como base da nova religião, além de proclamar o próprio Cristo como seu mestre supremo.

Todavia, muito mais importante que ter a imagem de Cristo em destaque nos altares dos templos, o estudo e a prática do evangelho do Mestre deve ser atividade comum e permanente dentro de uma casa de Umbanda. Sem o estudo e a prática dos ensinamentos de Jesus, a casa está fadada a ruína.

Não à toa, nossos queridos Pretos Velhos, quando manifestados, abençoam seus filhos em nome de "Nosso Senhor Jesus Cristo". Igualmente, a Linha dos Baianos tem por padroeiro Nosso Senhor do Bonfim, que nada mais é que a representação de Jesus crucificado.

Ressalte-se, porém, que, quando o Caboclo falou no Evangelho de Jesus, obviamente que não se referia a bíblia em si, com suas Leis Mosaicas já arcaicas - mas porém necessárias ao povo da época. Referia-se o Caboclo aos ensinamentos morais trazidos por Jesus.

Ainda que Jesus encarnou em uma sociedade judaica, que tinha a Torá como Lei suprema na época, ao ser questionado qual era o mandamento a ser seguido, ele assim respondeu: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas. (Mt 22, 35-40).

Portanto, mais importante do que qualquer forma dogmática, vestimenta, alimentação, Cristo veio anunciar que o maior mandamento é o amor à Deus e ao próximo. Tanto que Jesus, em nenhum momento impôs conversão ou instituiu qualquer tipo de religião dogmatizada. Sua religião era apenas o amor!

E a prática do amor consiste não apenas em amar os amigos, como Ele mesmo ensinou, mas sim, amar também os inimigos, os caluniadores, os que atentam contra nossa paz, por que são irmãos desajustados do caminho. Portanto, seguir a Cristo é ser tolerante, paciente e bom, principalmente para com aqueles que nos tenham feito mal.

Infelizmente, com o passar dos anos, a moral crística acabou se perdendo, instituições tiranas que diziam ser o detentor exclusivo do "poder" de Cristo, passaram a perseguir, torturar e matar pessoas que não comungavam da mesma fé, em total dissonância dos ensinamentos deixados por Cristo. Além disso, Cristo virou mercadoria, no qual pessoas de má-fé utilizam-o para amedrontar os mais ignorantes e assim arrancar-lhes dinheiro. 

Mas, como a espiritualidade não desiste da Terra, presenteou Allan Kardec com a Obra "O Evangelho Segundo o Espiritismo", na qual os ensinamentos morais do Cristo são novamente ressaltados, deixando de lado toda e qualquer passagem que esteja fora dos seus ensinamentos.

E é justamente esse iluminado livro que deve ser estudado, entendido e praticado. Com explicações dos espíritos superiores e mensagens complementares, o Evangelho Segundo o Espiritismo é um verdadeiro roteiro de conduta a ser seguido por todos, principalmente pelos médiuns que possuem a caridade como meta!

Questões meramente materiais, organizações institucionais, cargos, nada supre a modificação moral através dos ensinamentos de Cristo. Sem o estudo e a prática dos ensinamentos, o médium passa a ter uma visão meramente materialista das situações e acaba por deixar que as ervas daninhas do orgulho, egoísmo, vaidade, cresçam em solo onde apenas as boas sementes deveriam germinar.

Por exemplo, não basta alguém receber um cargo de pai/mãe de santo, se não ser humilde, se não souber tratar as pessoas de forma caridosa. Impossível que a mesma boca que dentro do terreiro fala em paciência e amor, após a sessão, no cotidiano, seja usada para falar palavrões, para humilhar e ofender outras pessoas. A modificação moral do médium não deve ocorrer apenas nos dias de sessões, mas sim em todos os atos de sua vida, pois não se deixa de ser médium quando a sessão termina!

Orar e vigiar são ensinamentos de Cristo, que devem sempre ser relembrados por aqueles que optaram em se dedicar em prol da caridade dentro de uma casa de Umbanda. Como dito acima, sem esse estudo e, principalmente, sem a prática, o médium está fadado ao fracasso e se for um dirigente espiritual sua casa está fadada ao fracasso! 

Portanto, assim como determinou o Caboclo das 7 Encruzilhadas, fundador desta maravilhosa religião, utilizemos o evangelho consolador do Cristo como base de nossa fé, e nele encontraremos respostas que nos farão seguir de forma produtiva nossa humilde missão de praticar a caridade.

Saravá a Umbanda!



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A Linha dos Semirombas e dos Sakaángás na Umbanda



Esse artigo visa explanar aspectos importantes de uma corrente/irmandade astral que participou ativamente na formação da Umbanda e que hoje, apesar de desconhecida por muitos terreiros e praticantes da religião, militam em favor dos umbandistas buscando auxiliar e dar a devida sustentação aos trabalhos de caridade.

Para entender a importância da corrente astral de Semiromba na Umbanda é necessário voltar aos primórdios da religião, no seu processo de formação. 

Fato é - por mais que existam objeções por parte de algumas vertentes - que a Umbanda foi anunciada no dia 15 de Novembro de 1908, pelo médium Zélio Fernandino de Moraes através da autoridade do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Espírito esse que fora em sua ultima encarnação Frei Gabriel Malagrida, jesuíta que participou do processo de catequização indígena no Brasil e que foi queimado na Santa Inquisição, devido suas afrontas ao temido Marquês de Pombal. 
Quadro da representação do Índio Caboclo das 7 Encruzilhadas e atrás do Frei Gabriel Malagrida
O fato de um espírito cristão ter sido o fundador da Umbanda é uma chave importantíssima para que se entenda a ancestralidade, a tradição e os objetivos umbandistas, pois remete a aspectos puramente brasileiros que refutam a hipótese de uma origem Africana para a religião Umbanda como conhecida hoje. 

A fundamentação cristã da Umbanda está pautada, não somente no fato de ter sido fundada por um Frei, mas também fatores históricos, informações trazidas pela espiritualidade (através do Caboclo das Sete Encruzilhadas) e por relatos de pessoas que participaram da construção da religião.

Áudios do Caboclo das Sete Encruzilhadas gravados pela senhora Lilia Ribeiro e sinais trazidos pela própria espiritualidade revelam que Santo Agostinho (um Semiromba) fez parte da formação e organização do movimento umbandista no astral, como se pode perceber nesse trecho da mensagem do Caboclo, na Tenda Nossa Senhora da Piedade em 1971:

...”Na federação Espírita do Estado do Rio, presidida por José de Souza, conhecido por Zeca, rodeada por gente velha, homens de cabelos grisalhos, um enviado de Santo Agostinho me chamou (Zélio de Morais) para sentar à sua cabeceira. Havia uma ordem; ele fora jesuíta até aquele momento, chamava-se GabrielMalagrida (Caboclo das Sete Encruzilhadas), e, naquele instante iria anunciar a Lei de Umbanda, onde negros e caboclos pudessem se manifestar, porque ele não estava de acordo com a federação, que não recebia negros, nem caboclos. Pois, se o que existia no Brasil eram caboclos, eram nativos, se quem veio explorar o Brasil trouxe para trabalhar e engrandecer esse país, os negros da costa da África, como uma Federação Espírita não recebia caboclos e negros?” (Trecho da mensagem do Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas gravada em1971, na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, pela senhora Lilia Ribeiro, diretora da Tenda de Umbanda Luz,Esperança, Fraternidade – RJ).

Outros pontos sustentam a hipótese da liderança dos Semirombas na formação da Umbanda através da figura de Santo Agostinho, como o famoso ponto riscado do Caboclo das Sete Encruzilhadas, no qual apresenta um coração sendo perfurado por uma flecha, símbolo esse considerado Agostiniano devido ao santo ser retratado muitas vezes durante a Idade Média com o coração e flecha nas mãos simbolizando o amor divino. A flecha varando o coração de cima para baixo representa o espírito de Deus entrando nos corações humanos. 


Nesta famosa pintura mediúnica do Caboclo das Sete Encruzilhadas feita pelo médium Jurandy no ano de 1949, percebe-se claramente o símbolo Agostianiano no braço direito do espírito.

Nesta imagem do congá da Tenda Nossa Senhora da Piedade reparamos também o símbolo agostiniano ao alto do altar.

Na imagem vemos o ponto riscado do Caboclo das Sete Encruzilhadas na TENSP em 1985.
 

Na imagem vemos Santo Agostinho com o coração flechado nas mãos. 

Todos esses fatores vão de encontro à presença dos Santos Católicos na Umbanda desde seus primórdios e que permaneceram nela em suas primeiras décadas militando na Linha de Semiromba e Chefiando as Sete Linhas até que o conceito de Orixá foi inserido posteriormente. 

Com o passar dos anos e a inserção de conceitos do Candomblé e da Macumba Carioca na Umbanda, a Linha de Semiromba foi ficando de lado, fazendo com que quase fosse totalmente recolhida, entretanto, graças aos antigos praticantes de Umbanda e novos praticantes da velha Umbanda esse conhecimento vem sendo novamente disseminado na esperança de que esses trabalhadores do astral continuem nos auxiliando em nossos trabalhos religiosos e que sejam devidamente valorizados por seu trabalho na organização do movimento umbandista no astral.

Mas afinal quem são os Semirombas e os Sakaángas?

Agora, devidamente contextualizados e inseridos na formação da Umbanda, podemos dissertar sobre quem são esses espíritos e onde se encaixam em nosso sistema Umbandista de trabalho. 

Os Semirombas e Sakaángas estão inseridos na primeira Linha de Umbanda, a linha de Oxalá. Fazem parte da sétima legião dessa linha comandada por São Francisco de Assis, legião essa que engloba espíritos que em vida foram muito ligados a fé, a religiosidade, ao conceito de purificação espiritual e que levaram uma vida buscando a depuração de vícios e vontades terrenas. 

A palavra Semiromba significa homem puro, e é empregada em um sentido geral para denominar os componentes de uma corrente astral de Padres, Frades, Freiras e Monges que militam nas religiões auxiliando a todos com sua chamada “magia cristã”. São espíritos muito humildes, que atuam através da oração e do poder mental para ajudar a todos que participam de seus trabalhos. Essa linha de trabalho tem duas particularidades interessantes, uma delas é que dificilmente trabalham incorporados, o que hoje na Umbanda é quase uma heresia devido ao hábito de se utilizar incorporação de espíritos como muleta para todo trabalho espiritual, e a segunda é que só se manifestam quando existe um grupo de pessoas em congregação e oração, ou seja, nenhum sacerdote Umbandista pode dizer que invoca a linha de Semiromba sozinho.

Desta linha se manifestam espíritos comandados por Santo Antônio, São Benedito, Santa Clara, Santa Bárbara, São José de Cupertino, Santo Agostinho dentre tantos outros vários espíritos que são considerados Semirombas, homens puros.

Como dito anteriormente esses espíritos trabalham através da “Magia Cristã” que engloba gestos e orações de poder que visam curar e transformar profundamente a alma dos necessitados, além de limpar a aura de magias negativas, mandingas, mau-olhado, quebrantos e feitiçarias. É uma linha que tem a especialidade no campo dos “Exorcismos” (desobsessão) e também na libertação de obsessões complexas e difíceis que já pendurem há anos. Mas seu principal objetivo (e talvez o motivo de ter sido esquecida durante anos) é trabalhar na reforma íntima dos consulentes e médiuns, buscando fazer com que as pessoas enxerguem seus defeitos e qualidades e que busquem purificar a alma a fim de entrar em comunhão com Deus, algo que hoje também é muito esquecido na Umbanda, cheia de suas mandingas e trabalhos para resolver os problemas de maneira rápida. 

Já os Sakaángas são espíritos de Benzedeiros, Benzedeiras, Rezadores, Raizeiros, Curadores e Parteiras, que trabalham utilizando de seus benzimentos e rezas para retirar o mal, as magias negras, as maledicências, a inveja e outras energias negativas da aura das pessoas. São espíritos poderosos na arte do descarrego, habilidade essa que fica implícita em seu nome, Saka pode ser traduzido como sacudir ou agitar e Angá pode significar espírito. Buscam também auxiliar na orientação de espíritos obsessores, kiumbas, eguns e espíritos sofredores.

Os espíritos que trabalham nessa linha são comandados por rezadores ilustres como Pai João de Camargo, Monge João Maria de Agostinho, Nhá Chica, Dona Geraldina, Tia Eva e o saudoso Mestre Irineu fundador do Santo Daime. 

Em apenas um artigo é muito difícil explanar todo universo que rodeia essa corrente espiritual dos Semirombas e Sakaángas, pois não são propriedade da Umbanda tampouco se limitam aos conceitos umbandistas. É uma Irmandade Espiritual envolta de muitos mistérios e tradições muito mais antigas e que carregam em si toda uma ancestralidade cristã popular brasileira.

Mas se mostra fato que fizeram parte da liderança astral que fundamentou e organizou a Umbanda e hoje devido a vários fatores políticos, doutrinários e interesses pessoais dentro da religião foram perdendo seu espaço e sua valorização. Com o devido conhecimento sobre essa linha, o umbandista pode desempenhar o papel de expandir o nome dessa corrente a fim de não perder as nossas tradições religiosas.

A todos os Umbandistas que quiserem se aprofundar no conhecimento dessa irmandade astral e que busquem saber como realizar os trabalhos com esses espíritos em seus respectivos templos, searas e terreiros, indicamos a leitura e estudo pormenorizado do livro “Ritual do Rosário das Santas Almas Benditas” que explica e trás toda uma fundamentação histórica, litúrgica, doutrinaria e de culto. Esse livro foi escrito por Pai Juruá dirigente do Templo da Estrela Azul em São Caetano do Sul, ao qual deixo meus sinceros agradecimentos por ter compartilhado e disponibilizado todo esse conhecimento que tanto vem a somar para a religião. Deixo nas referências do artigo o link para download do livro em PDF. 

Concluindo, peço a todos os irmãos umbandistas que sempre tratem com o devido respeito e admiração essa linha, mesmo que não trabalhem em seus respectivos templos, para que possamos deixar viva as nossas raízes religiosas e impedir que pessoas má intencionadas, dentro e fora da religião, criem fundamentos deturpados que confundam e criem dissidências desnecessárias dentro do movimento umbandista.

Salve a Semiromba! Salve São Francisco de Assis! Salve Santo Agostinho! Salve Gabriel Malagrida, O Caboclo das Sete Encruzilhadas!

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Artigo realizado pelo médium Lucas Martins dos Santos, da Tenda de Umbanda Filhos da Vovó Rita.
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Referências: 








sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

MÉDIUNS ILÚSTRES



O Núcleo de Estudos da Tenda de Umbanda Filhos da Vovó Rita, no objetivo de contribuir para a história da Umbanda, realizou pesquisas acerca da vida e história de médiuns que realizaram grandes feitos para a Religião de Umbanda. Considerando que a Umbanda é ainda uma religião muito nova, fundada em 1908, é essencial que suas histórias, em especial, as das pessoas que dedicaram suas vidas em prol da caridade e da religião, sejam registradas, divulgadas e conhecidas por todos os seus adeptos.

Esperamos que cada história aqui contada contribua para o conhecimento dos irmãos de fé e sirvam de inspiração para o trabalho e propagação desta maravilhosa religião!


Axé!

CACILDA DE ASSIS


"UMA VIDA DEDICADA AO SEU 7 ENCRUZILHADAS REI DA LIRA"

"É trabalhando que se vence a guerra, é trabalhando que se conga, então vamos trabalhar sempre no caminho do bem!!"


BENJAMIN FIGUEIREDO

"UMBANDA É COISA SÉRIA, PARA GENTE SÉRIA"(CABOCLO MIRIM)



RUBENS SARACENI

"O PRECURSOR DA UMBANDA SAGRADA"



LEAL DE SOUZA

"O PRIMEIRO ESCRITOR DA UMBANDA"

sábado, 21 de janeiro de 2017

MÉDIUNS ILÚSTRES: LEAL DE SOUZA


O Núcleo de Estudos da Tenda de Umbanda Filhos da Vovó Rita, no objetivo de contribuir para a história da Umbanda, realizou pesquisas acerca da vida e história de médiuns que realizaram grandes feitos para a Religião de Umbanda. Considerando que a Umbanda é ainda uma religião muito nova, fundada em 1908, é essencial que suas histórias, em especial, as das pessoas que dedicaram suas vidas em prol da caridade e da religião, sejam registradas, divulgadas e conhecidas por todos os seus adeptos.

Esperamos que cada história aqui contada contribua para o conhecimento dos irmãos de fé e sirvam de inspiração para o trabalho e propagação desta maravilhosa religião!
Axé!

LEAL DE SOUZA

"O primeiro escritor da Umbanda"


Antônio Eliezer Leal de Souza nasceu no dia 24/12/1880 (algumas fontes apontam a data de 24/09/1880), em Livramento (antiga Santana do Livramento), no Rio Grande do Sul. Aos 11 anos de idade fez seu primeiro poema. Ainda jovem foi oficial do exército chegando a participar da Guerra de Canudos. Cansado de sofrer prisões por combater o governo de Borges de Medeiros, Leal de Souza desligou-se do exército e dedicou-se então ao jornalismo. Iniciou seus trabalhos como redator de A Federação de Porto Alegre.

 Em 1900 foi para o Rio de Janeiro onde cursou Direito sem concluí-lo.  Nessa mesma cidade, destacou-se como secretário e repórter dos periódicos Careta, A Noite, Diário de Notícias e A Nota. Como repórter deu o furo sobre o assassinato de Euclides da Cunha. Leal de Souza frequentava a roda literária formada por Olavo Bilac (o qual apresentou Leal de Souza as principais paginas de jornais da época como poeta), Martins Fontes, Coelho Neto, Luis Murat, Goulart de Andrade, Alcides Maya, Aníbal Teófilo, Gregório da Fonseca e outros (Figura 1). Além de poeta, escritor, crítico literário, conferencista e jornalista foi também tabelião.
Figura 1. Reunião da Sociedade dos Homens de Letras, em 1915. Olavo Bilac aparece na foto indicado pelo número 15 e Leal de Souza pelo número 16.

Em 03/10/1918, aos 38 anos, casou-se com Gabriella Ribeiro Leal de Souza, com a qual teve três filhos. Leal de Souza já era escritor consagrado com mais de quatro títulos publicados quando iniciou seus trabalhos no espiritismo.

§ -  O Álbum de Alzira (Porto Alegre, 1899);
§ -  O Almanaque Regional (Santa Maria (RS), 1915-1917);
§  - Bosque Sagrado (Rio de Janeiro, 1917);
§  -  A Mulher na Poesia Brasileira (Rio de Janeiro, 1918)
§ - A Romaria da Saudade (Rio de Janeiro, 1919)
++ Canções Revolucionárias (Rio de Janeiro, 1923)

Mais tarde publicaria:

§  * No Mundo dos Espíritos (Rio de Janeiro, 1925);
§  * O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas da Umbanda (Rio de Janeiro, 1933);
§   *  A Rosa Encarnada – romance espírita (Rio de Janeiro, 1934);
§  * Getúlio Vargas (Rio de Janeiro, 1940);
§ * Transposição dos Umbrais (opúsculo editado pela Federação Espírita Brasileira, editado em 1941, sobre a conferência proferida na mesma federação em 1924, Rio de Janeiro).

Em 1924 surgem os primeiros textos sobre o Kardecismo no jornal A Noite onde relata suas experiências com os espíritos. Em busca de matérias e encontros com o espiritismo prático, Leal de Souza depara-se com trabalhos de Umbanda e acaba chegando a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade (Figura 2).
Figura 2. Trabalho no qual Leal de Souza participou na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade.

Em sua primeira visita a tenda, Leal de Souza desconhecido por todos os presentes e sem ser anunciado, foi reconhecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. O mesmo dirigiu-se até ele e disse: “Pode dizer que apertou a mão de um espírito. Á minha esquerda, está uma irmã que entrou com tuberculose e a minha direita um irmão vindo do hospício. Curou-os, aos dois, Nossa Senhora da Piedade. Pode ouvi-los” (CUMINO, 2015 p.56). Neste mesmo dia Leal de Souza presenciou a cura de um rapaz considerado louco, realizadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antônio.  

Em 1925 o primeiro livro sobre Umbanda (Figura 3), intitulado "No Mundo dos Espíritos" é lançado. Todos os artigos e crônicas escritas durante o ano de 1923 sobre sessões e manifestações espíritas na cidade do Rio de Janeiro são relatados, bem como sua ligação com Zélio de Morais. Na Figura 4 um registro de um dos trabalhos realizados por Pai Quintino o qual Leal de Souza acompanhou.“Depois de convertido ao espiritismo, o Sr. Leal de Souza fez durante seis anos, com auxilio de cinco médicos, experiências de caráter cientifico sobre essas práticas, e principalmente sobre os trabalhos dos chamados caboclos e pretos” (SOUZA, LEAL DE 1933, pg.6).

Figura 3. Primeiro livro sobre manifestação de espírito publicado por Leal de Souza


Figura 4. Trabalho realizado por Pai Quintino o qual Leal de Souza acompanhava.
Desde então passou a trabalhar para a Umbanda, aceitando a missão de dirigir a Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, uma das setes tendas mestras fundadas pelo Caboclo das 7 encruzilhadas. Esta tenda foi fundada em 1918 estando à frente Gabriela Dionysio Soares (entidade chefe: Caboclo Sapoéba), que por problemas pessoais não pôde dar continuidade aos trabalhos. Por isso em 1933 Zélio de Moraes determina a Leal de Souza, que assumisse a direção dos seus trabalhos na Tenda.

“O chefe do terreiro dessa Tenda – presidente espiritual, - é o Caboclo Corta Vento, da linha de Oxalá; seu substituto imediato, e o Caboclo Acahyba, da Linha de Oxóssi, e eventuais Yara, da Linha de Ogum, Timbiry da falange do Oriente, e o Caboclo da Lua da linha de Xangô” (LEAL DE SOUZA, 1933 pg 76).
Figura 5. Livro de Leal de Souza pertencente à Tenda Nossa Senhora da Piedade.(Jornal Nacional de Umbanda, 2011, pg 10).

      Cada tenda fundada tinha um chefe de terreiro (presidente espiritual), substitutos imediatos e vários eventuais, todos designados pelo guia chefe. “A Hierarquia, na ordem material, como na espiritual, é mantida com severidade. Cercam o Caboclo das Sete Encruzilhadas muitos espíritos elevados que ele distribui, conforme a circunstância, pelas diversas Tendas” (SOUZA LEAL, 1933 pg.70).

Na tenda Nossa Senhora da Conceição era realizada as sessões de caridade, desenvolvimento mediúnico e de estudo cientifico. Na primeira quinta feira de cada mês era realizada uma sessão com os dirigentes de cada tenda, na tenda matriz, com o caboclo das 7 encruzilhadas – este fazia as observações necessárias e passava as instruções para a realização dos próximos trabalhos.

Na segunda sexta-feira de cada mês todos os médiuns de cada tenda trabalhavam na tenda matriz, Nossa Senhora da Piedade; No terceiro sábado se reuniam na Tenda Nossa Senhora da Conceição e no quarto na Tenda Nossa Senhora da Guia. Anualmente faziam um retiro de vinte e um dias, realizavam ainda cerimônias diárias na tenda e na casa de seus médiuns.

“E pelo dever de assumir a responsabilidade social de minha investidura, acrescento que sou o presidente da Tenda de Nossa Senhora da Conceição, ou, mais modestamente, o delegado humano incumbido, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, de coordenar a ordem material necessária à execução dos trabalhos espirituais”. (SOUZA, LEAL DE 1933 pg.76).

Em 1933 sua segunda obra, "O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda" é lançado (Figura 6). É a primeira obra a detalhar aspectos fundamentais da Umbanda, a exemplo das sete linhas brancas e os orixás. É escrito com tanta clareza, indo direto as questões essenciais da religião, que ainda nos dias de hoje é muito atual e de leitura fundamental a todos os umbandistas. Na época era uma heresia falar sobre o assunto, pois tudo a respeito era considerado “macumba”.  

Como a maioria dos fundadores e líderes  que tiveram a missão de trazer algo novo da espiritualidade para a matéria, Zélio de Moraes não produziu obra literária, mas preparou mediunicamente alguns dos escritores da Umbanda como Leal de Souza (Dirigente da Tenda Espírita Nsª. Sra. Da Conceição), Capitão Pessoa (Dirigente da Tenda Espírita São Jerônimo) e João Severino Ramos (Dirigente da Tenda Espírita São Jorge), destacando-se o primeiro - onde a iniciativa valeu-lhe então o mérito de “Pioneiro” da literatura umbandista.
Figura 6. Segundo  livro publicado por Leal de Souza sobre Umbanda.


Leal de Souza ousou escrever sobre Umbanda em um jornal de grande divulgação do Rio de Janeiro em 1932 (Figura 7), em plena repressão da Ditadura Vargas. Foi o primeiro umbandista que enfrentou a crítica feroz, ostensiva e pública, em defesa da Umbanda. Leal de Souza viveu em uma época atribulada da política brasileira e, como jornalista, envolveu-se em confrontos com muitos políticos e personalidades. Talvez por isso as suas memórias fossem relegadas a um plano inferior na história dos escritores brasileiros. Isto dificulta a pesquisa sobre a sua vida.



Figura 7. Jornal de grande circulação na cidade do Rio de Janeiro onde Leal de Souza publicava sobre Umbanda.


Conviveu durante vinte e três anos, com Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em suas falas sempre afirmava: “Não esqueçamos que o labor desses espíritos tem duas finalidades: atrair a criatura e ensina-la a amar e a servir o próximo. Com sua manifestação, pelo corpo dos médiuns, provam a imortalidade da alma e os benefícios que fazem, servem para elevar o beneficiário, pela meditação ao culto e ao amor ao Deus e, portanto, a prática de suas leis”. (MATTA E SILVA, 1987).

Leal de Souza faleceu no dia 01 de novembro de 1948 aos 68 anos de idade, no Rio de Janeiro em sua residência. Um poema seu o Morte e Encarnação foi psicografado por Chico Xavier e publicado no livro Antologia dos Imortais, obra mediúnica, de 1963, que trata da imortalidade da alma.

Morrer!... Morrer!... A gente crê que esquece,
Pensa que é santo em paz humilde e boa,
Quando a morte, por fim, desagrilhoa
O coração cansado posto em prece.
Mas, aí de nós!... A luta reaparece...
A verdade é rugido de leoa...
A floração de orgulho cai à toa,
Por joio amargo na Divina Messe.
No castelo acordado da memória
Ruge o passado que nos dilacera,
Quando a lembrança é fel em dor suprema...
Sempre distante o céu envolto em glória,
Porquanto em nós ressurge a besta fera
Buscando, em novo corpo, nova algema.

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 Atividade do Núcleo de Estudos da Tenda de Umbanda Filhos da Vovó Rita.
Pesquisa realizada pela médium Flávia dos Santos Etgeton e apresentada na Tenda na sessão do dia 26.11.2016

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REFERENCIAS

CULMINO, Alexandre. Umbanda não é Macumba. 2 edição, 2015. Editora Madras.
MATTA E SILVA. Umbanda e o Poder da Mediunidade. 3 edição, 1987. Editora Freitas Bastos.

T.U. Filhos da Vovó Rita

T.U. Filhos da Vovó Rita